ex-comandante da PM-RJ defende coronel preso por morte de juíza

                                     coronel mário sérgio duarte, ex-comandante da PM do Rio de janeiro (Foto: Alexandre Durão/G1) 
                                Mário Sérgio diz que pedido de demissão da PM ocorreu
                                sem conhecer o processo sobre morte de Patrícia Acioli
Seis meses após deixar o comando da Polícia Militar do Rio devido à prisão de policiais acusados de matar a juíza Patrícia Acioli, o coronel Mário Sérgio Duarte defende o oficial apontado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil como o mandante do assassinato e que era seu subordinado na época.

Em sua primeira entrevista após o episódio, Duarte diz ao G1 que não vê no processo provas contra o tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, e admite ter sido decisão sua tirar os homens que atuavam como seguranças de Patrícia.
Foi a prisão de Oliveira – na época chefe do batalhão de São Gonçalo e hoje em uma penitenciária federal - que fez Duarte deixar o cargo. A juíza combatia milícias e grupos de extermínio na Baixada Fluminense, determinando a prisão de PMs ligados ao tenente-coronel acusados de assassinatos e de ficar com o espólio do tráfico. Para o advogado da família de Acioli, Oliveira "desejava a morte da juíza", com quem tinha uma “rixa antiga” após ser processado por ela por abuso de autoridade em 1989.
“Eu saí da PM com a crença de que, de fato, havia provas robustas contra o Cláudio [Oliveira] e entreguei o meu cargo. Foi um gesto de renúncia. Agora, após conhecer o processo, concluo da sua inocência”, afirma Mário Sérgio ao G1. “Muito se falou sobre a juíza estar investigando o coronel e o batalhão dele, mas juízes julgam, não investigam", declara.
O ex-comandante usa o argumento da falta de provas contra o subordinado para defender que, se tivesse na época o conhecimento que tem agora sobre o caso, “não teria pedido para sair”. Ao enviar ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a carta de demissão, logo após a prisão de Oliveira, ele estava internado para uma cirurgia.
Saí da PM com a crença de que havia provas robustas contra o tenente-coronel Cláudio. Foi um gesto de renúncia. Hoje, concluo da sua inocência"
Mário Sérgio Duarte, ex-comandante-geral da PM-RJ
“Não consigo encontrar provas. A prisão do Cláudio se fundamenta na delação premiada de dois cabos. Um deles diz que o assassinato foi planejado com o tenente depois que ambos tiveram a prisão decretada pela juíza. O cabo diz que ouviu do tenente, que ele teria ouvido do coronel orientações para o crime e palavras de assentimento. Num caso assim é elementar uma acareação, o que não houve”, diz Duarte.
O ex-comandante se refere ao tenente Daniel Benitez e aos cabos Jefferson de Araújo Miranda e Sérgio Costa Júnior, flagrados por câmeras de segurança do condomínio onde a juíza morava no local no dia do crime e apontados como executores do assassinato.

                                                patrícia acioli pedido de segurança (Foto: Alexandre Durão/G1) 
                                            Documento mostra pedido de Patricia para
                                            que seguranças ficassem a sua disposição
Foi o cabo Miranda quem delatou em depoimento à Polícia Civil que Oliveira mandou os subordinados matarem Acioli. Já na Justiça, ele mudou a versão, negando ter envolvido o tenente-coronel. O cabo Júnior mantém a posição de suspeita sobre o tenente-coronel, mas sem acusá-lo como mandante.
Além do depoimento dos dois cabos, que acusaram o tenente-coronel de ter indiretamente orientado a execução e também de ficar com o espólio do tráfico e acobertar execuções cometidas na unidade, a prisão de Oliveira está fundamentada, segundo o decreto judicial, no depoimento de familiares da juíza, que afirmam que os dois tinham um desentendimento antigo desde que ela foi presa durante um jogo de futebol em 1989.
O comando de Mário Sérgio ficou conhecido pelo sucesso na política de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio, combatendo traficantes e a milícia. Ele enfrentou momentos difíceis na segurança pública do estado, como a greve dos bombeiros, em que teve que mandar o Bope invadir um quartel dominado pelos rebelados, e a derrubada, por criminosos, de um helicóptero da PM, provocando a morte de dois de seus homens.
Animado, Mário Sérgio prepara agora o que chama de “reinserção na vida pública”. Em casa, escreve dois livros – um sobre liderança e outro sobre a conquista do Complexo do Alemão, que chefiou pessoalmente e que considera como sua grande realização na corporação, "a missão cumprida". Além disso, retomará o trabalho na área que domina.
“Estou me dedicando à família e ao projeto da Secretaria de Políticas Públicas de Segurança em Três Rios (cidade de 77 mil a 125 km do Rio de Janeiro), que vou assumir”, descreve.
                                        Juíza Patrícia Acioli foi morta a tiros na porta de casa, em Niterói. (Foto: Reprodução / TV Globo) 
                                    Juíza Patrícia Acioli foi assassinada na porta de casa       
Sobre a morte da juíza Patrícia Acioli, Mário Sérgio aponta diversos fatores que podem ter interferido no assassinato.
"Foi uma ação cruel, covarde, sem chances de defesa da vítima. Mas várias pessoas não gostavam dela, não sei que motivos poderiam ter, talvez vingança. O tenente e o cabo tiveram a prisão decretada por ela no dia anterior. Por que é que precisa ter um mandante?", diz.
Ele, porém, diz que "não se arrepende" de ter deixado o cargo. "Aquele era um gesto moral que entendi como absolutamente necessário na ocasião. No hospital, as informações que me chegavam eram de que havia provas do envolvimento do Oliveira no assassinato e eu não podia permitir que a responsabilização por meus atos respingasse em outras pessoas. Mas, hoje, a conclusão que tenho é diferente. Se tivesse o conhecimento que tenho agora sobre o que houve, não pediria para sair”, desabafa.
Fonte: G1

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